quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Sobre escuridão e seus reflexos

Conversando sobre o blecaute do mês passado, surgiu a seguinte observação:

"Deu uma vontade correr pelado no dia do apagão"

A primeira coisa que segue a uma frase dessas são risos. Alguns surgiram, mas o que mais se ouvir foi:

"Eu também pensei nisso."

O interessante é que outras pessoas já haviam dito o mesmo, sobre a mesma situação, o que me fez pensar que é um "instinto coletivo" se despir na escuridão.

Realmente, a ausência de luz faz com que as pessoas revelem o que a vergonha não permite.

Na situação do blecaute, creio que isso se demonstre de algumas formas...

Da mesma forma que alguns correriam nus, outros se utilizariam da escuridão para praticar crimes, para pixar a casa do vizinho, mexer com aquela vizinha...

Cada um utilizaria o anonimato causado pela escuridão de acordo com seus desejos ocultos, vontades escondidas, "insanidades"...


Eu fui um dos que sentiu vontade de me despir, de vestes e vergonha, e correr por ai, nessa situação...

Como forma de estudar as diferentes reações e, utilizá-las como ferramenta de pesquisa, pergunto...

... e você, "o que você faz quando, ninguém te vê fazendo?"

[comentários anônimos são permitidos]

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Desigual[ci]dade


Relato de um dia (aparentemente) comum.

Acordar, tomar café, tomar banho... enfim começar o dia (mesmo que tarde).

Sair para resolver assuntos de interesse pessoal - me parece que o lado "estudioso" e interessado de quem vos escreve tem se fortalecido nos últimos dias- e ter a sorte de encontrar pessoas que não via há tempos, além de alguém que vi ontem, mas também não via há tempos antes disso.

Tomar algumas cervejas, bater papo, ter ideias em conjunto com pessoas que tem a arte correndo forte nas veias (isso numa terça-feira à tarde, meio vadio, mas confesso que me satisfaz mais do ficar trancado num escritório), visitar exposições, assistir à uma peça, perceber o potencial criativo de quem está perto.

Momentos daqueles onde se percebe que a parte boa da vida é feita de relacionamentos construídos...


A noite já caiu há algumas horas e, com uma fina garoa, é chegada a hora de voltar pra casa.

Desço no ponto final, caminho pelo centro da cidade... e é aí que vem uma certa estranheza.


Como o centro da maior cidade da América Latina pode ser tão controverso?

Durante o dia, multidões, correria e a "locomotiva do Brasil" à pleno vapor. À noite, ruas vazias, onde somente os moradores dessas frias ruas se fazem presentes.

A única melodia que se ouve sai de algumas caixas de som, localizadas em um ou outro bar.

Achei que a "cidade que não dorme" estava quieta demais.

Senti aquele vazio da cidade como se fosse meu, como se a ocupação daqueles espaços dependesse de mim e de outros tantos habitantes dessa cidade imensa.


Chegando ao próximo terminal de ônibus, paro para comer algo e me deparo, mais uma vez, com mais uma cena típica da cidade, dessas que mescla desigualdade, necessidade e talvez, até mesmo, uma boa dose de interpretação.

"Amigo, será que você poderia me pagar um salgado. Não quero dinheiro, não é isso que peço, tô com fome mesmo"

Dar dinheiro não é mesmo do meu feitio, não consigo confiar em quase ninguém ultimamente. Mas diante do fato de saber que o pedido era de comida... a fome dessa pessoa pode ter sido amenizada com um salgado.

Desigual(ci)dade...


Esse acontecimento fez com que o ônibus partisse... esperei o próximo, sem ressentimentos, tem outro chegando logo por ai.


Embarquei no próximo ônibus, que se colocou em movimento rapidamente.


Durante esse trajeto, olhei para o céu e percebi que não era o único a observar os acontecimentos, ao contrário, eu também era observado.

A Lua estava lá, ora se escondendo entre nuvens, talvez para se omitir, como muitas vezes fazemos... ora aparecendo para observar todas essas controvérsias.


Diante desse dia, me perguntei...

Será que não é hora de tomar a cidade como nossa, ocupar os espaços vazios, tanto com a presença física quanto a presença do que temos à oferecer...

Arte, cultura, lazer... ou qualquer entretenimento que torne essa cidade mais viva, mais dinâmica e menos fria?